11 de outubro de 2013 País tem políticas contraditórias para o etanol, relata professor da Unicamp
Nagise iniciou trabalho com representantes das principais empresas do setor (Foto: Thomaz Fernandes/G1)
Governo estimula produção, mas cria dificuldade para o retorno financeiro. Inovação pode tirar o setor da crise; curso em Limeira discute alternativas.
O governo federal tem políticas contraditórias para o etanol, na avaliação do professor Sérgio Salles Filho, coordenador do Núcleo de Apoio à Gestão da Inovação para a Sustentabilidade no Setor Sucroenergético (Nagise) da Universidade de Campinas (Unicamp). Para ele, ao mesmo tempo em que a produção é incentivada, são criadas dificuldades para o retorno financeiro do ciclo da cana-de-açúcar e o desenvolvimento do etanol.
O professor acredita que ações inovadoras que partam das próprias empresas podem tirar o setor da crise. Nesta sexta-feira (4), o Nagise iniciou um trabalho de capacitação em gestão da inovação que reunirá 96 profissionais das principais usinas do estado de São Paulo no campus da Unicamp em Limeira (SP) por oito semanas.
Salles vê as políticas de controle do preço da gasolina como um dos fatores prejudiciais para o meio. “A conjuntura dos preços do petróleo e a política do governo de controlar o preço da gasolina acabam batendo de frente. O governo tem políticas contraditórias, pois ao mesmo tempo que estimula o etanol, pelo menos no discurso, o entorno não é favorável”, disse.
“Essa crise pode ser resolvida de duas maneiras: ou com mais apoio governamental ou as empresas investirem em competitividade, ou ainda as duas coisas juntas. Aqui começa um programa desta segunda alternativa. Vamos investir em competitividade, criar ambientes novos, criar novos modelos de negócio e investir em novas tecnologias”, completou.
Presidente da Unica comentou crise que setor sucroalcoleiro vive (Foto: Darlan Alvarenga/G1)
Crise no setor
Nesta quinta-feira (3), a presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, comentou a crise no setor e pediu auxílio governamental. “Este ano vivemos uma situação paradoxal. Temos a maior safra colhida da história e ao mesmo tempo uma pressão de custos e uma estagnação de receita. Quanto mais se produz, mais se perde. Com os custos crescentes, o preço do etanol gera uma receita abaixo da registrada dois anos atrás. A conta não fecha”, afirmou.
A crise no setor sucroenergético teve início em 2009, após a recessão econômica internacional. Neste período foram fechados 100 mil postos de trabalho e 44 usinas. Cem usinas que se instalavam no país na época foram pegas de surpresa em meio a um acúmulo de recursos financiados e tiveram investimentos em produtividade comprometidos, explicou Elizabeth.
Frente Parlamentar
Três anos de safras comprometidas por questões climáticas, novos endividamentos ocasionados pela mecanização da colheita e políticas de isenção sobre o preço da gasolina agravaram esse quadro nas 400 plantas de processamento de cana em funcionamento no país, segundo a Unica. Para ampliar a pressão política, a Assembleia Legislativa paulista criou nesta quinta-feira a Frente Parlamentar em Defesa do Setor Sucroenergético, cujo objetivo é forçar a elaboração de ações governamentais e até o pagamento de subsídios para os produtores de cana.