Livres para pesquisar

Novo modelo de gestão em projetos colaborativos com empresas beneficia comunidade acadêmica

Texto: Adriana Arruda / Fotos: Antonio Scarpinetti e Antoninho Perri / Edição de Imagens: Diana Melo

Nos últimos anos, as empresas têm investido em inovação com o objetivo de aumentar a competitividade. Para o diretor executivo da Agência de Inovação Inova Unicamp, Milton Mori, a força do parque industrial da Região Metropolitana de Campinas também se reflete na busca por produtos inovadores. Prova disso é o crescimento do interesse das empresas da região em projetos colaborativos de pesquisa e desenvolvimento com universidades de excelência como a Unicamp. “A demanda vem crescendo especialmente em áreas como tecnologia da informação, computação e engenharias. Nesse sentido, a Agência de Inovação Inova Unicamp deve criar cada vez mais iniciativas para apoiar empresas e pesquisadores no estabelecimento de parcerias, especialmente no que tange aos projetos colaborativos de P&D”, explica Mori.

Entre as iniciativas que compõem ações de apoio aos projetos de P&D colaborativos universidade-empresa propostas pela Agência está a provisão de equipe dentro da Universidade para gestão administrativa dos projetos. O modelo cria uma alternativa ao formato mais comum das parcerias, no qual, além de realizar pesquisas, professores e alunos envolvidos nos projetos de P&D colaborativos lidam também com pendências administrativas e financeiras do projeto. Já em andamento, a parceria da Samsung com pesquisadores do Instituto da Computação (IC) e da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp contou com todo o apoio e intermediação da Inova na formatação dos projetos e é um exemplo dos bons resultados deste modelo.

A parceria Unicamp-Samsung em projetos colaborativos de P&D engloba até o momento seis projetos de pesquisa para o desenvolvimento de plataformas computacionais móveis. No IC, os coordenadores são os professores Anderson de Rezende Rocha, Guido Araújo, Rodolfo Azevedo, Ricardo Dahab, Sandro Rigo e Paulo Lício. Já na FEEC, o coordenador é o professor José Antenor Pomílio. Além de investir na construção de um laboratório para o desenvolvimento dos projetos, espaço localizado dentro da Unicamp, no prédio do Inovasoft, a empresa previu no projeto a contratação de dois gestores para realizar a intermediação entre os representantes da Samsung e os professores envolvidos: o analista de sistemas Fernando Canevassi, que é o gestor dos projetos, e o estudante de Engenharia da Computação Leandro das Neves.

Atualmente, os gestores estão sob a coordenação de Elias Borges de Athayde Drummond – da área de transferência de tecnologias da Inova Unicamp – e sediados na Inova, mas explicam que devem passar parte do tempo junto ao grupo de pesquisa para ampliar a sinergia do grupo de trabalho. “O convívio com o grupo de pesquisa nos deixa ainda mais próximos das necessidades dos pesquisadores e facilita a solução de quaisquer demandas que nos apresentem”, explica Canevassi.

Desde setembro de 2012, o professor Anderson tem um projeto em parceria com a Samsung ligado à área de inteligência artificial e aprendizado de máquina e conta com uma equipe de sete pessoas – um professor, um doutor, dois alunos de mestrado e três de iniciação científica. “Este é o primeiro projeto de que participo com acompanhamento administrativo, e o resultado tem sido positivo”, destaca. De acordo com Anderson, sua equipe utiliza o laboratório no Inovasoft construído pela Samsung para gerar pesquisa e inovação. “Dessa maneira, ficamos livres e focados para a pesquisa”, esclarece.

Já o professor Sandro Rigo iniciou seu primeiro projeto em parceria com a Samsung há dois meses. “Não é o primeiro projeto de P&D em que me envolvo e percebo uma nítida diferença: o projeto convencional e sem gestão toma muito tempo, já que precisamos fazer controle de relatórios, rubricas e toda a parte burocrática. Nesse novo modelo, os gestores acompanham nossos relatórios técnicos e resolvem questões que não fazem parte do escopo acadêmico”.

O professor Anderson ressalta que a produção de relatórios trimestrais é feita pela equipe com auxílio dos gestores. “Esse novo modelo de gestão facilita muito o nosso trabalho, pois focamos em resultados. Acredito que iremos atingir os objetivos propostos inicialmente e, dessa maneira, geraremos inovação científica e tecnológica em parceria com uma empresa renomada”.

No âmbito da inovação, a Samsung ocupa posição de destaque e é líder global em tecnologia. Segundo Miguel Lizárraga, gerente de P&D da Samsung, a empresa comumente adota esse modelo em seus projetos colaborativos com universidades. “Sabemos que o projeto se torna mais difícil de ser gerenciado apenas pelo grupo de pesquisa. O gerente de projeto precisa ter conhecimento das questões administrativas e cumprir o tempo demandado pela empresa. Ele tem o papel de nos trazer a informação precisa de maneira ágil e eficiente e saber lidar com as dificuldades. É, portanto, um papel fundamental em projetos colaborativos e, sem ele, a probabilidade do projeto fracassar aumenta”, explica. Lizárraga acredita que, quando não há gestão centralizada, o relacionamento com os pesquisadores fica prejudicado. “O docente possui outras atividades além do projeto e, portanto, nem sempre está disponível. O papel do gestor é estar sempre disponível, nos auxiliando para que os projetos tenham resultados positivos”, afirma.

Para o professor Rigo, a experiência é positiva. “Fazer parte de um projeto com gestão está sendo uma ótima oportunidade, especialmente pela parceria com uma empresa de grande porte como a Samsung. Com os projetos de P&D, temos contato com dificuldades reais de grandes empresas e temos que encontrar soluções para resolver esses impasses de mercado, o que enriquece a pesquisa e pode, posteriormente, beneficiar a sociedade em forma de produtos, processos ou serviços”, finaliza.

Fapesp estimula parcerias

Patricia Pereira Tedeschi, coordenadora do Nuplitec (Núcleo de Patenteamento e Licenciamento de Tecnologia), explica que a Fundação do Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) prevê reserva técnica para infraestrutura institucional de pesquisa. Na entrevista que segue, ela revela como a agência de fomento tem estimulado os pesquisadores com esse auxílio.

Jornal da Unicamp – Há na Fapesp uma reserva técnica para contratação de gestor de projetos colaborativos?

Patricia Tedeschi – A Fapesp paga a Reserva Técnica para aplicações diretamente ligadas à pesquisa ou à infraestrutura de pesquisa. Como ela está proibida por lei de apoiar atividades administrativas, toda a atividade de gestão e apoio administrativo deve ser realizada pela instituição sede do projeto. No caso de auxílios do PITE, a Fapesp pode aceitar que uma pequena fração de recursos da contrapartida da empresa seja destinada ao apoio à gestão do projeto.

JU – Quais são os objetivos dessa reserva técnica?

Patricia Tedeschi – Nos Auxílios Pite, a reserva técnica é formada por duas parcelas. Uma se refere aos benefícios complementares, concedidos com a finalidade de cobrirem despesas com a participação em reuniões científicas ou tecnológicas e estágios de pesquisa de curta duração fora do Estado de São Paulo. Outra são os recursos que compõem a Reserva Técnica para Infraestrutura Institucional de Pesquisa, que deve ser dedicada a itens especificados e justificados num “Plano Anual de Aplicação da Reserva Técnica para Infraestrutura Institucional de Pesquisa”. O encaminhamento deste Plano deve ser feito depois de aprovado pela Congregação ou Colegiado Superior da Instituição.

JU – Quais os benefícios que esse novo modelo de gestão pode trazer aos pesquisadores?

Patricia Tedeschi – Na experiência da Fapesp, um dos principais desafios para o desenvolvimento da pesquisa no Estado de São Paulo de forma competitiva com os principais centros internacionais é obter para o pesquisador o apoio de sua instituição em intensidade e qualidade adequadas. As universidades estaduais paulistas têm feito um bom esforço nessa direção. No entanto, para garantir a competitividade da pesquisa, a Fapesp espera das instituições sede um esforço ainda maior para proteger o tempo de seus pesquisadores contra tarefas extra acadêmicas.

JU – Em projetos da Fapesp, os profissionais contratados para resolver as pendências administrativas fazem a ponte entre a empresa e o pesquisador?

Patricia Tedeschi – A Fapesp só aprova uma solicitação de apoio à pesquisa quando a assessoria e a diretoria científica verificam que a instituição sede é capaz de garantir o apoio institucional necessário. Os pesquisadores precisam de apoio de suas instituições para a gestão administrativa e financeira do projeto, no processo de recebimento e gestão da contrapartida da empresa, aquisição de bens e prestação de contas. É importante notar que o apoio do profissional administrativo e a eventual ponte que ele faz entre o pesquisador e a empresa, não substitui o apoio da agência de inovação da instituição sede para a celebração do convênio. O procedimento para a assinatura dos convênios exigidos por lei para o aporte de recursos privados à universidade tem sido um importante obstáculo nos auxílios PITE que, em alguns casos, introduzem demora de vários meses até que o pesquisador possa ter acesso aos recursos.

Política de uso de conteúdo

A reprodução parcial ou total de reportagens, fotografias e imagens é livre, desde que não haja alteração do sentido original do conteúdo e mediante a citação da Agência de Inovação Inova Unicamp, assim como o(s) nome(s) do(s) autore(s) e do(s) fotógrafo(s), quando citado(s). Ex.: “Nome do fotógrafo/repórter - Inova Unicamp”. O mesmo deverá ocorrer no caso de reprodução parcial ou total de arquivos em vídeo ou áudio produzidos pela Inova Unicamp.