País precisa aprimorar seus sistemas locais de gestão da inovação

O Brasil está em 57º lugar no ranking do Relatório sobre o Índice de Inovação Global, que envolve 141 países. Se quiser melhorar sua posição, o país precisará investir nos sistemas locais de gestão da inovação, de acordo com o físico Clemente Nóbrega, da Inovatrix.

Especialista em estratégia empresarial, Nóbrega apresentou a palestra “Inovação, Produtividade e Competitividade”, nesta segunda-feira (3/6), durante o workshop Sebrae, que deu início às atividades da XIII Conferência Anpei, que se realiza em Vitória, entre os dias 3 e 5 de junho.

Segundo Nóbrega, o brasileiro tem um notável espírito empreendedor, mas o país continua caindo em rankings globais de competitividade e inovação. “Apesar de todos os progressos e conquistas recentes, o clima brasileiro ainda é hostil, falta alguma coisa. Isso fica claro quando olhamos os rankings globais de inovação”, disse.

Uma das dificuldades para identificar os gargalos, segundo Nóbrega, é a dificuldade para aferir os ganhos objetivos e medir o retorno da inovação. “Precisamos chegar a um momento, no futuro, em que possamos identificar o que todo o esforço existente para aprimorar o sistema brasileiro de inovação produziu em termos de riqueza que não existia antes”, disse.

Ele afirmou que grandes empresas globais hoje já têm metas de inovação. “É preciso que se possa medir os resultados, mais que as condições. O Brasil investe pouco em inovação comparação com outros países. Mas será que precisamos só de mais investimento?”, questionou.

Nóbrega defendeu que não existe um “segredo da Inovação”: trata-se de algo que emerge de um sistema quando suas peças estão encaixadas de forma satisfatória. “Assim como a consciência emerge de uma rede de conexões de neurônios – uma célula não faz nada sozinha – a inovação também emerge de uma rede de conexão de vários elementos. A combinação desses elementos dá origem a algo que não havia antes”, disse. Alguns dos elementos, segundo ele, estão dentro da empresa, outros fazem parte do ambiente externo.

Os obstáculos externos à inovação são um problema global, segundo Nóbrega. “Quando falamos no sistema, estamos pensando em todos agentes que batem bola com a inovação no Brasil. Temos universidades, leis de incentivos, órgãos de fomento e apoio em todas as esferas de governo, empresas privadas e públicas investindo em inovação, polos tecnológicos, incubadoras, o MCTI, agências reguladoras e assim por diante. Mesmo com tudo isso, estamos mal em relação a outros países”, disse Nóbrega.

A solução para os problemas do sistema inovativo deve ser buscada como qualquer solução inovadora, segundo Nóbrega. “As melhores soluções para problemas de inovação são as que buscam e eliminam os conflitos e contradições que consideramos inevitáveis. A inovação sustentável é algo que produz vantagem competitiva de forma constante e não espasmódica. É algo que o sistema usual ser impossível”, disse.

Para melhorar o sistema de inovação, segundo Nobrega, é preciso ser inovador. “Inovar é pegar os recursos que já temos e rearranjar, fazer de forma diferente, que não era prevista antes. Mas não basta ser diferente: é preciso gerar valor, porque isso é algo mensurável.

O gargalo da inovação no Brasil não é técnico, segundo Nóbrega. Ele afirma que o país tem grandes técnicos e cientistas. “Mas há obstáculos ligados aos marcos legais, ao nível de corrupção e ao descaso absoluto com as questões de gestão, como cobrar metas e adotar a meritocracia. Coisas desse tipo adquirem cada vez mais importância nos sistemas inovadores”, afirmou.

Quando se tem um problema, a tendência é adicionar novos elementos e buscar mais recursos, segundo Nóbrega. Mas essa é uma saída ineficaz: geralmente, adicionar novos componentes causa um aumento de complexidade e de custo desnecessário.

“No sistema brasileiro, temos milhões agentes dedicados à inovação, mas as coisas não estão dando certo com a velocidade que queremos. Para conseguir aprimorar esse sistema, não adianta termos gênios. É preciso aumentar a capacidade de milhões de inovadores médios para inovar de fato”, disse.

A inovação deve ser avaliada não pelos “inputs”, como recursos financeiros e números de patentes, apenas. É preciso avaliá-la pela competitividade e pela produtividade, que são “outputs” mensuráveis. “Precisamos aprender a fazer cada parte do sistema operar de forma maximamente eficiente. A solução ao nosso alcance é falar mais em sistemas locais de gestão da inovação. Isto é, na minha empresa, na minha entidade, no meu órgão de fomento, dar importância que hoje não damos à gestão”, declarou.